domingo, 28 de setembro de 2008

Mas que maquete cara!

Passei boa parte da manhã deste domingo ajudando minha filha, e algumas coleguinhas dela, na feitura de uma maquete solicitada pela sua professora do colégio.
O trabalho é válido, e, acredito, ajuda a desenvolver nas crianças o senso estético, a coordenação motora e visual, o sentimento de grupo e a valorização da cooperação. Isso para não referir o que aprendem em torno do tema sobre o qual a maquete deve ser feita. Uma trouxe os pincéis, outra as tintas, outra o isopor... Uma ficou encarregada de algumas colagens...
Minha ajuda resumiu-se ao auxílio com facas, tesouras e fogo (para esquentar a faca e cortar mais facilmente o isopor). Dei algumas dicas também sobre cores a serem usadas, e sobre escalas. Destaquei a importância da proporção entre os objetos, não sendo possível misturar carrinhos matchbox com cadeiras da polly. Essa, aliás, era uma obsessão minha quando criança. Achava terrível ver meus sobrinhos colocando comandos em ação em carros da barbie e fazendo-os passar por entre casinhas de playmobil... Mas, voltando à maquete, dadas as dicas e diretrizes iniciais, elas fizeram todo o resto sozinhas. E ficou até bonitinha, para um grupo de meninas de oito anos.
Foi quando eu soube de uma história que me deixou perplexo.
Comentando essas atividades matutinas com alguns conhecidos, em um outro ambiente, em outro contexto, ouvi comentários de algumas mães, de outras crianças, diversas das que trabalhavam com minha filha (e até de outra série), a respeito do preço absurdo que uma senhora teria cobrado para fazer a maquete de seus filhos.
- Como assim? - Perguntei.
- Sim!!! A mulher teve o descaramento de cobrar R$ 100,00 para fazer a maquete!!! - Foi o que responderam as mães, que contrataram a senhora, bem habilidosa, para fazer o trabalho.
- Mas o trabalho não deveria ter sido feito pelos seus filhos?
- Ah... Mas é só uma maquetezinha besta, cuja feitura não mede o conhecimento de ninguém... A senhora, por outro lado, é responsável pela confecção de mesas de aniversário, e tem muita habilidade. A maquete ficou linda! Como o trabalho era em grupo, as mães das quatro crianças dividiram os honorários pela elaboração da maquete, que saiu por R$ 25,00 para cada uma...
A pior parte, contudo, foi ver o puta exemplo que essas mulheres estão dando para as pobres crianças, que assistem a tudo e assim aprendem ser esse o "jeito certo" de resolver as coisas. Nessas horas, dá vontade de sentir todos os prazeres fonéticos possíveis, acrescendo-se aos analisados pelo Prof. Alberto Xavier, ainda, o puta que pariu.
Sempre vemos em nossos pais um modelo. Na infância, inclusive, alguns valores podem não estar ainda devidamente consolidados na personalidade da criança, que toma a conduta do pai ou da mãe como paradigma. E que grande paradigma esses estão tendo.
Quando, depois, pagarem alguém para fazer sua monografia, na faculdade, a quem a mãe poderá culpar? As más companhias? Certamente. Estas são sempre as culpadas pelos defeitos que muitos pais não têm olhos para ver nos próprios filhos, e, às vezes, em si mesmos.
Quando, formados, acharem que pagando o oficial de justiça, o delegado ou o juiz, resolverão seus problemas, ou quando quiserem pagar para vencer uma licitação, ou para serem dispensados de um tributo que efetivamente devem... Tudo isso será, para eles, a coisa mais natural do mundo!

5 comentários:

Fuad Daher de Freitas Mendes disse...

Olá, professor Hugo! Parece que fiquei cativo no blog. Mas é que já acompanhava, desde as nossas aulas de Tributário, as interessantes matérias postadas. E agora, resolvi comentar, na medida do possível, cada uma delas.

Quando criança, os professores da minha escola me passaram um trabalho parecido. Foi uma espécie de gincana, em que ao final todas as crianças tinham que apresentar seus trabalhos escritos e em forma de maquete. A minha era apresentar uma salina, e explicar todos os seus passos.

Lembro-me bem, pois foi um momento marcante para mim. Passei o fim de semana inteiro junto do meu pai, coisa muito difícil, por causa da sua profissão. Mas não naquele fim de semana, ele era só para mim. Só nós dois, discutindo, projetando, brincando, enfim, aprendendo juntos. Mais eu que ele, é lógico. Até fomos visitar uma salina.

Na segunda-feira, dia marcado para apresentação dos projetos, ao chegar à escola, deparei-me com alguns colegas e amigos com projetos fantásticos. Fiquei chateado, isso eu me lembro, porque o meu era um dos mais simples. Porém, como nunca tive muita “frescura” mesmo, coloquei-o em cima de uma mesa, e fiquei aguardando os visitantes e professores avaliarem-no.

A minha nota foi ótima, me lembro (risos), pois dava um trabalhão aos meus pais nos estudos. Mas não é isso que eu tiro da minha historinha, e sim o grande valor que o meu pai fez-me ver nos pequeníssimos detalhes, os quais somente mais tarde, colhi. Não se nasce digno, professor. Porém, se preparados e educados para sermos um dia, será impossível voltarmos ao estado inicial. E são os nossos pais os verdadeiros modelos para nossa formação. “Pais sem caráter, filhos desonestos”. Assim me ensinou o meu maior amigo, meu pai.

Grande abraço!

Suzane Farias disse...

Meu querido irmão,
Acho que todos nós, pais, passamos por essa situação de trabalhos escolares...eu ainda passo com o Matheus! O que mais me chama a atenção nesses momentos é a felicidade que percebo nele ao ver o trabalho pronto. Lembro que não faz muito tempo, fizemos uma maquete toda de lego. Ele tem um montão de peças dentro de um depósito plástico, e a gente conseguiu montar, acho que foi um cinema, se não me falha a memória. Foi o máximo! Além de perceber alegria nele, percebo também algo que considero muito importante, o orgulho pelas habilidades da mãe, pela descoberta das suas e por termos feito o trabalho juntos. Momentos que NÃO TEM PREÇO!!!!

bruna disse...

eu concordo! Aquele ditado que diz filho de peixe... é bem verdade. E eu acho que tem um monte de criança que ia até gostar de fazer esse tipo de coisas, que os pais se intrometem..
O pior que essa criança chega na faculdade e continua pagando alguém pra fazer até mesmo a mais simples lista de exercícios. (já tive amigos que foram requisitados pra esse tipo de serviço)
Mas eu nem sabia que tu tinha essa gastura quando a gente era criança! ahahhahah
Mas tu misturava o dinossaucer(?) com o bob e o cabeça de batata! :)

Hugo de Brito Machado Segundo disse...

Bruna,
O dinossaucer (?), o bob e o cabeça de batata eram da mesma escala. O problema era misturar falcon e playmobil.

Hugo de Brito Machado Segundo disse...

É verdade, Fuad e Suzane, o bom mesmo de fazer a maquete, além do aprendizado o tal, é o momento de convivência e cooperação entre pais e filhos. Além do péssimo exemplo,as tais mães ainda se privaram dele.