quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Eu sei que eu existo!

Outro dia conversava com Hugo e Paulo, 8, quando surgiu o tema da "verdade" e da "certeza". Eles pareceram interessados no assunto, principalmente quando questionei as afirmações que inicialmente fizeram, baseadas no chamado "realismo ingênuo". Disseram que tinham certeza "absoluta" de que o livro que liam era branco, que moravam naquela casa etc., ao que retruquei: - Vocês podem estar sonhando! Podem acordar, daqui a instantes, percebendo que tudo o que vêem agora não passa de ilusão...
Eles pararam, pensaram, e gostaram muito da provocação. Tentei, então, dar uma rápida explicação sobre os graus de certeza de nossas crenças e sobre o falibilismo. Quando disse que era a matéria que ensinava no PPGD/UFC (Epistemologia), ficaram ainda mais interessados. Falamos então de ceticismo, de graus de certeza, de considerarmos uma crença razoavelmente fundamentada como "verdadeira" até que nos convençamos do contrário etc.
Chegou a hora do jantar, mudamos de assunto, e pensei que tinham esquecido do tema.
Mas, passados vários dias, hoje na hora do almoço Paulo chega radiante, gritando: - Pai! Pai!
- O que foi, Paulinho?
- Pensei muuuuuuito no que conversamos naquele dia!
- E aí?
- E aí que descobri uma coisa de que tenho certeza. Certeza absoluta!
- Foi mesmo, e o que é?
- Que eu existo! Tudo o mais pode ser sonho, mas se eu estou sonhando, é porque pelo menos eu com certeza existo!

O que mais gosto de lembrar, nesse episódio, é do brilho nos olhos dele com a "descoberta". E eu que pensava que ele havia esquecido o assunto. Estava era maquinando em torno dele desde então.
Esclareço que Paulo tem 8 anos, e sua bibliografia consiste em livros como Diário de um Banana, The Big Nate e congêneres. Ele nunca ouviu falar de René Descartes, nem eu jamais havia mencionado o cogito cartesiano para ele. Isso mostra que, como já havia mencionado outras vezes aqui no blog, amparado na excelente obra de Gareth Matthews, todos nós, quando crianças, temos a curiosidade própria dos filósofos, que o peso da rotina às vezes vai apagando...