Não sei porque a língua humana Os brutos não falam mais, Quando hoje têm melhor vida, E há muita besta instruída Nas ciências sociais...
Ultimamente entenderam Que tinham também razão De proclamar seus direitos Pondo em uso os bons efeitos Que trouxe a Revolução...
"Seja o leão, diz o asno, Um rei constitucional: Com assembléias mudáveis, Com ministros responsáveis, Não nos pode fazer mal.
Fiquem-lhe as garras ocultas, Não ruja, não erga a voz, Conforme a tese moderna Qu'ele reina e não governa, Quem governa somos nós...
Todas as bestas da terra, Todas as bestas do mar Tenham os seus delegados, Sendo os ministros tirados Do seio parlamentar..."
"Muito bem! grita o macaco, A gente vai ser feliz! Respeito a ciência alheia; Publicista de mão cheia, 0 burro sabe o que diz. | Todavia, acho difícil Que Dom Leão rugidor, Sujeito à sede e à fome, Queira ter somente o nome De rei ou de imperador!...
Acostumado a pegar-nos Com suas patas reais, Calar-se, fingir-se fraco!... Segundo penso eu... macaco... Dom Leão não pode mais!"
Acode o asno: "Eu lhe explico, Nada vai a objeção: Se o rei viola o preceito, Salvo nos fica o direito De fazer revolução".
"Mestre burro, isto é asneira, Palavrão de zurrador, Esse direito é fumaça, De que nos serve a ameaça, Quando nos falta o valor?
Só vejo, que bem nos quadre No trono, algum animal, Que coma e viva deitado: O porco!... Exemplo acabado De rei constitucional..." |
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