Com todo o respeito, não considero correta a estratégia das editoras em relação ao "ebook". Seus preços me parecem muito elevados, não só no Brasil (clique aqui), como no exterior (clique aqui).
Não quero dizer que as obras não tenham qualidade. Não é isso. Muitas têm, a meu ver, valor inestimável. A questão, contudo, é de coerência, e de estratégia empresarial mesmo.
As editoras afirmam que o preço do livro é elevado por conta de diversas variáveis, dentre as quais podem ser apontadas o custo do papel e as despesas com distribuição, que incluem frete, comissão de distribuidores e livreiros etc. Tanto o custo do papel é levado em conta que livros bastante grossos geralmente são muito mais caros do que aqueles fininhos.
Pois bem. Essas despesas não existem no livro eletrônico, o que, por si só, deveria ser justificativa suficiente para que seu preço fosse bem mais baixo.
Mas não só. Em meio eletrônico, tende a desaparecer a diferença entre um original e uma cópia, sendo, ainda, muito mais fácil a troca e a transmissão de material por parte dos usuários, na internet. Muitos de meus alunos acompanham a aula com notebooks, netbooks ou tablets, e quando menciono um livro não raro o encontram em poucos minutos no 4shared, de graça. Se as editoras pretendem concorrer com isso, deveriam oferecer livros eletrônicos a preços mais baixos, ganhando na quantidade de downloads, que seguramente seria muito maior. Basta ver o que acontece com os aplicativos da Apple Store, que, custando U$ 0,99, ou U$ 1,99, são baixados por inúmeros usuários.
Da forma como se procede hoje, o usuário prefere o livro de papel, ou tenta consegui-lo em meio digital, clandestinamente. Não há absolutamente nada que o atraia a comprar, legalmente, o livro em formato digital.
Se tantas editoras cobram pelos livros eletrônicos, disponíveis ao consumidor com um simples clique, o mesmo preço que cobram por um livro impresso, em papel, com capa dura, que precisa ser transportado, distribuído, estocado, revendido etc., deve haver uma razão para isso, a qual, contudo, desconheço.
5 comentários:
Desde que começaram as vendas dos e-books eu me questionei sobre esses valores também.
Lembro que em uma aula de direito tributário na faculdade até me posicionei no sentido que a imunidade do papel dada pela CF nao deveria ser aplicada ao e-book, até mesmo porque nao vejo aquelas imunidades como clausulas petreas. pra mim, todas tem cunho político.
Mas depois dos preços absurdos dos e-book, tenho mudado meu posicionamento.
Enfim, nao concordo contigo quando dizes que livros mais grossos sao mais caros que os livros mais finos.
na area juridica, alguns livros de 800 paginas sao mais baratos que livros de 300 paginas, tudo dependendo do escritor e da editora.
O fato é: no brasil e no mundo, o livro ainda é visto como peça pra intelectual e nao como um grande meio de informação.
A grande maioria nao gosta de ler e daí nao compra o livro(independente do livro ser barato ou nao).
Acredito que devido a pequena procura, o preço tende a subir, uma vez que, mesmo que o valor fosse baixo, muitos nao comprariam e, por conseguinte, as editoras teriam enorme prejuizo.
Sérgio Lima
Caro Sérgio,
Obrigado por seu comentário.
Você tem razão quando fala que autor e editora contam na definição do preço do livro (há editoras que imprimem tiragens maiores, por exemplo, reduzindo o preço unitário).
Mas o que eu quis dizer foi que papel e distribuição são um custo (não interessa se o maior, o mais relevante, ou não). E se trata de um custo ausente no eletrônico.
Ainda quanto a esse ponto, note: dois livros da mesma editora, do mesmo autor, e com a mesma tiragem: o mais fino, normalmente, será mais barato que o mais grosso.
Quanto à imunidade, penso que sua finalidade é evitar censura (e não baratear o livro), pelo que ela não parece ter relação com o debate.
Tenho dúvidas também quanto à afirmação de que as pessoas não lêem. As livrarias nos shoppings vivem cheias. E, quanto aos alunos, vejo muitos com livros, e um número talvez até maior com xerox e livros em pdf... Então, se o preço fosse mais baixo, talvez, talvez, a procura fosse maior, e as editoras não tivessem prejuízos...
Os preços elevados de muitos livros eletrônicos refletem o problema do mercado editorial: estabeleceu-se um modelo de negócio que só se sustenta com margens de lucros estratosféricas, em que os preços dos “best-sellers” são controlados para sustentar os livros que empacam, em que há uma cadeia muito longa de gente que tem de lucrar até à chegada ao consumidor final etc. A possibilidade de comércio das obras digitalizadas reduziu drasticamente o custo marginal do livro; entretanto, a maioria esmagadora do negócio continua nos “átomos”, sem que os “bits” ainda tenham experimentado um avanço significativo, por várias razões (leitores digitais caros, cultura do “cheiro do papel novinho” etc.) Resultado: o preço da obra digital continua muito alto, pois não dá para (ainda) haver uma ruptura com o modelo atual – é melhor deixar o digital artificialmente caro, do que romper com distribuidores, lojas virtuais, livreiros e todos os demais que integram a cadeia tradicional. O pior é que os autores, mesmo os que não ganham dinheiro com seus livros, nem mesmo para tirar o que têm de gastar com as suas fontes de pesquisa, já que não há grandes bibliotecas públicas, ainda não tomaram uma atitude decidida contra isso, pois parecem satisfeitos, ou não sabem o que fazer. Quem quer simplesmente ser lido, pode jogar sua obra na internete e procurar fazer uma divulgação nos nichos especializados (deverei fazer isso em breve... rs). Achei sensacional a experiência do pessoal do Radiohead de ter lançado um disco à base do “pague quanto quiser”; é uma pena que eles tenham calado sobre o resultado da experiência. É difícil saber qual será o próximo passo nessas experiências, pois o modelo atual está muito solidamente estabelecido. Um gigante como Amazon não conseguiu segurar o preço dos livros eletrônicos que oferece em até U$ 9,99, como queria, por pressão dos editores. A única certeza que eu tenho é a de que, em meio a um negócio que encarece demais o seu produto final, em meio a consumidores que não conhecem bem o modelo em que o livro é produzido, até mesmo para se voltar contra e buscar uma pressão sobre as editoras, quem perde são os estudantes bolsistas que empregam grande parte de seu parco dinheiro com livros e periódicos cada vez mais caros.
Obs: foi levantada a questão do custo da manufatura dos livros aqui nos comentários. Quem conhece minimamente o modelo, sabe que esta é uma das menores parcelas do custo total, que, via de regra, não chega a dez por cento do preço de capa. Em alguns casos, nem a metade disso.
Continuo questionando a quantidade de leitores professor.
Realmente, as livrarias vivem cheias, mas poucos compram livros.
Veja que em Fortaleza (sou de Natal/RN), recentemente, houve operação para fechar várias copiadoras que já têm cópias prontas de livros de autores jurídicos!
Serio Lima
Caro Sérgio,
Já tive essa impressão, de que poucos estão lendo, mas acho que ela não corresponde à verdade. Talvez decorra um pouco do pessimismo que nos é natural (como denuncia Matt Ridley no "Rational Optimist").
Veja: quando viajamos de avião, sempre há alguém ao nosso lado com um livro. E se a xerox tinha assim tantas cópias, é porque as pessoas compravam (para ler). A questão da xerox não denuncia falta de leitura, mas falta de respeito ao direito autoral, o que é diferente.
De qualquer modo, acho que é acertado o comentário do Assolan. O problema não é a falta de leitores: é o desinteresse por um mercado que, se "pegar", pode acabar de vez com as grandes editoras, ou dar-lhes um golpe muito forte.
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