quarta-feira, 19 de setembro de 2012

São os políticos todos safados?

Tenho refletido muito sobre essa questão do "nós" e do "eles". Falamos muito mal dos políticos e dos governantes, mas, em uma sociedade democrática, eles não são seres de outro planeta que chegaram aqui para nos governar. Os defeitos deles são os nossos... Se queremos consertar o mundo, poderíamos começar por nós mesmos.
Outro dia ia ao aeroporto, de táxi, e o motorista falava das eleições. Passamos por um carro com o adesivo de certo candidato a vereador, que busca a reeleição, e ele disse:

- Esse aí é um canalha!

Fiquei curioso. - Por quê?

- Ora... - Respondeu o taxista - Dei todo o apoio para ele na campanha passada. Até consegui votos na minha família, com a minha esposa, meus filhos, minha sogra... Convenci vários colegas taxistas a votarem nele, e até alguns passageiros. E depois ele me deu uma facada pelas costas!

- Facada? O que houve?

- Quando precisei dele, fiquei na mão...

- Como assim?

- Meu filho. É um rapaz bom, mas não consegue emprego em canto nenhum. Nenhuma empresa oferece uma chance para ele. Eu queria que o vereador conseguisse um emprego para meu filho, para ele se arranjar, e ele nada! É um traidor!

(...)

Fiquei calado. Limitei-me a um "Pois é...", e mudei de assunto. Mas vejam vocês, leitores: ele queria um emprego para o filho, justo aquele que nenhuma empresa privada queria empregar. O vereador, em troca do "apoio", deveria conseguir o tal emprego, pouco importando a qualificação do sujeito... O importante era ele  "se arranjar". E dizia isso na maior convicção, como se se tratasse do pleito mais justo desse mundo (talvez algum leitor até ache isso mesmo, vai saber...).

É lamentável que não seja óbvio que devemos apoiar aqueles que nos parecem honestos e preparados para administrar a coisa pública, e não aqueles que nos darão "algo em troca", individualmente, depois. Seja um emprego, um favorecimento em uma licitação, um cargo para um parente ou um aderente... Fico só a imaginar o coitado do político que pretenda ser realmente honesto depois de eleito. Vai começar despertando o ódio de todos os "amigos" e "colaboradores" que o apoiaram em sua campanha, cujos pleitos não serão nada "legais", do ponto de vista jurídico, mas que, se não forem atendidos, despertarão um ódio mortal contra o "traidor". Como sempre, em tais situações, deprecia-se e fala-se mal de quem quer fazer as coisas corretamente. O correto é o errado, e vice-versa.

Todos querem que o outro melhore e respeite "os seus direitos", mas ninguém se lembra dos deveres. É como a história do "cidadão" (clique aqui), ou como a do sujeito que se queixa da cidade suja, mas joga lixo pela janela do carro ou do ônibus, reclama do trânsito mas estaciona em fila dupla em avenida de grande movimento, gerando congestionamento, elogia a possibilidade de andar na rua no exterior, mas aqui é o primeiro a estacionar o carro em cima da calçada, na maior desfaçatez, e assim por diante.

2 comentários:

Vitor Ramalho disse...

Esse tipo de atitude do taxista é a regra, penso. Servidores públicos (juízes, analistas, procuradores) não votam em tal governo porque "são contra o funcionalismo", claramente só pensando em si. Na época da EC 20/98, alguns servidores odiavam o FHC. Quando da promulgação da EC 41/03 o ódio dos servidores passou ao Lula. Enfim. É um exemplo simples, mas que se vê em mesa de bar, em roda de amigos. É muito, mas muito difícil achar alguém que vote sem pensar em si. O Brasil é um país sem ideologia partidária, com raras exceções. O eleitor, em geral, vota para se dar bem: o marido vota na reeleição do prefeito para que a esposa continue com sua função comissionada na prefeitura; o concurseiro vota no candidato que promete aumentar vagas para concursos futuros; o servidor estadual não vota no governante atual porque ele não atende seus pleitos; o advogado vota no candidato à OAB que trabalha no mesmo escritório, pois, se eleito, aquele "colega de escritório" vai favorecer a vida do advogado. É errado pensar em si e votar de acordo com seus interesses? Em última instância, não, mas o ideal do sistema representativo não é esse. Às vezes quando falo que esse sistema representativo atual está a caminho do esgotamento, pode pensar que sou a favor do retrocesso, do caminho contrário, da falta do voto. De jeito nenhum. Sou libertário e a favor da democracia e da alternância de poder até a alma. Mas o fato é que é difícil ver alguém votar por ideologia. Infelizmente, repito, a regra é mesmo votar por interesses pessoais.

Hugo de Brito Machado Segundo disse...

Caro Vitor,
Obrigado pela participação, e pelo comentário, aliás muito inteligente.
Note, porém, que talvez haja uma sutil diferença entre a situação do taxista e a do concurseiro que vota em quem sinaliza com a realização de mais concursos.
Em tese, em uma democracia, devemos realmente eleger representantes que defendam os interesses nos quais acreditamos. É legítimo que alguém contrário ao aborto vote em quem é contra a ampliação das hipóteses em que esse procedimento é considerado legal, por exemplo. Da mesma forma, é legítimo que um aposentado vote naquele que promete defender os interesses dos aposentados, ou que um deficiente visual vote em um deficiente visual que promete defender os interesses desse grupo vulnerável. E assim por diante.
Mas há uma distinção - talvez não muito clara, como tudo, pois há uma "nuvem cinzenta" na fronteira, e não uma linha nítida - entre defender os interesses legítimos de um grupo, e usar a coisa pública para atender aos interesses ilegítimos de uma pessoa, em ofensa ao princípio da impessoalidade.
Uma coisa é um servidor votar em quem promete defender os direitos dos servidores, assim como o liberal votar naquele que promete diminuir o Estado. Outra coisa é alguém votar em um sujeito, seja de que ideologia for, só para que este, depois, possa "arrumar" o próprio filho, conseguir um emprego na câmara, favorecer a empresa em uma licitação etc.
É como eu disse, nos extremos a diferença entre as situações é clara, mas talvez haja uma nuvem cinzenta no meio. O fato de a situação se complicar na nuvem, contudo, não nos impede de visualizar bem os fatos situados nos dois extremos...
Abraços,
hugo segundo