Não é raro vermos professores com atuação acadêmica até intensa, no que pertine a orientações, aulas, cursos, cursinhos e até palestras, mas que, não obstante, não publicam muito. Às vezes, nada.
Não estou aqui criticando isso. Longe de mim. Apenas, depois de ouvir dias atrás as justificativas (que não pedi) de um colega, fiquei ruminando o assunto, e resolvi postar o resultado (provisório) dessa ruminação.
Uma das causas é o tempo. Mas, em relação a este, convém não usá-lo como desculpa. É que o dia tem 24 horas para todo mundo, e quando dizemos que não deu tempo de fazer alguma coisa, o que estamos a dizer, no fundo, é que outras coisas nos pareceram mais importantes. É uma questão de prioridade. Pode-se preferir o BBB, a novela, um telefonema para um amigo à cata de novidades sobre os detalhes da vida alheia... Sem julgar nenhuma dessas ocupações, o fato é que elas absorvem tempo. O mesmo que depois falta para outras coisas.
Outra causa é a dificuldade de acesso às editoras. Essa, contudo, não deve ser a principal. Afinal, elas são em grande número, e não tão difíceis assim. Já me disseram que em algumas, menores, o autor pode pagar para que o livro seja impresso, o que elimina por completo o obstáculo. E, de qualquer sorte, a internet, através de blogs (como este), e do scribd (clique aqui), permite a qualquer um que publique qualquer coisa. Essa, aliás, é sua grande virtude, embora seja, para alguns, também o seu grande defeito. Prefiro achar que é virtude, e que, como defende Thomas Friedman (n´O mundo é plano), o público que livremente escolha, sem a interferência de grandes editoras, redes de livrarias, gravadoras (em relação aos CDs) etc.
Mas a causa que talvez seja a avassaladora é a exposição.
Escrever expõe. E como.
Quem explicita suas opiniões revela o conteúdo de seu pensamento, ou a falta dele. Criticar é muito fácil, e é precisamente por isso que fazer, em vez de falar de quem faz, inibe.
Lembro de quando o George Marmelstein disse que, ao ler o próprio livro (por sinal, excelente) pela primeira vez, depois de impresso e publicado pela Atlas, sentia-se assistindo à própria imagem na televisão, numa mistura de embaraço e admiração.
Senti algo parecido quando recebi a primeira edição do Processo Tributário. Corei. Algo que estava apenas em meu computador, e que eu mostrava só para quem era íntimo, agora estava disponível para qualquer um abrir e ler. Senti-me sem roupa no meio do Iguatemi.
Por isso gostei das palavras que o Professor Arnaldo Vasconcelos usou no final do prefácio que fez ao "Por que dogmática jurídica?". Ele recomendou que as páginas fossem lidas, e não devoradas, dizendo ao leitor: "Pense quanto deve ter custado escrevê-las! Se duvidar, tente você também, ao menos como exercício de aprendizagem. Valerá a pena, com certeza."
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