quarta-feira, 23 de setembro de 2009

E os meus direitos?!

As pessoas estão cada vez mais conscientes de que têm direitos. Isso é bom. O problema é que algumas, em número não desprezível, só se lembram dos SEUS direitos, e esquecem os dos outros. Esquecem que o direito é compartição de liberdade, e que liberdade ilimitada para uns significa total supressão da liberdade para outros.
Fala-se, diante da lei seca, na "liberdade para beber", em evidente e sofística mudança de foco, pois a questão não é saber se as pessoas são livres para beber, mas se são livres para DIRIGIR tendo bebido, o que é muito diferente, e afeta diretamente a liberdade das outras pessoas que dirigem e caminham pelas ruas de permanecerem vivas e inteiras.
Diante das restrições ao fumo, as pessoas falam na "liberdade" para fumar em locais fechados, esquecendo a liberdade dos outros, que não fumam, mas que são obrigados a inalar a fumaça alheia. Gosto às vezes - muito raramente mesmo - de um charuto, mas só os consumo na minha casa, e na varanda.
Mas isso é pouco. Outro dia uma mãe estava reclamando porque brigaram com o filho dela. O bichinho apenas tinha feito pichações na escola que todos - alunos e professores -, em regime de mutirão, tinham acabado de pintar. A professora, "insensível com o pobre adolescente", fez algo "terrível": chamou-o de bobo e mandou que pintasse novamente as paredes que sujou. Ora, isso foi uma "humilhação" para o bichinho...
Putz.
Nessa maré de excesso de direitos (para não dizer de outra coisa), vi há pouco, no twitter - no qual estou cada vez mais viciado - uma aluna que plagiou a monografia de fim de curso e depois processou a IES porque a banca a reprovou, causando-a uma "humilhação"...
Felizmente ainda existem pessoas lúcidas no mundo, sendo a manifestação do Desembargador uma aula de bom senso e razoabilidade:
ainda que o orientador tenha sido omisso e negligente, não se pode acreditar que um aluno universitário, prestes a obter o bacharelado em Direito, não tenha a mínima noção de que escrever um trabalho não é o mesmo que copiar um texto de outro e apresentá-lo como próprio, principalmente quando se trata de trabalho tão importante e sério (ao menos assim deveria ser encarado por alunos e professores), como é o trabalho de conclusão de curso”.

A prevalecer tais absurdos, é preciso ter cuidado até mesmo ao ser assaltado. Vai que a vítima reage, e o ladrão se machuca... Se grita "pega ladrão", pode ser processada por calúnia, e por haver causado danos morais ao assaltante...

Isso me lembra o perfeitíssimo exemplo que o professor Marcelo Pinto usava, nas aulas de Direito do Trabalho I, para explicar a diferença entre emprego e trabalho. Dizia ele: - Emprego todo mundo quer, ao passo que trabalhar...

2 comentários:

Raul Nepomuceno [www.ojardim.net] disse...

Excelente reflexão, Hugo. Estou de pleno acordo.

Quando vi hoje essa notícia da professora hostilizada porque mandou o aluno pintar a parede que ele rabiscou (parede que havia sido recentemente pintada), fiquei muito, muito indignado. Os pais desse menino deveriam, isso sim, agradecer enormemente o gesto dessa educadora.

Quanto ao ladrão processar a vítima... Sinto informá-lo, Hugo, já foi:

http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI3315030-EI5030,00.html

Um abraço,

Raul.

Hugo de Brito Machado Segundo disse...

É verdade, amigo Raul, já foi. Não falta mais nada... Mas pelo menos a postura do juiz foi bem racional.
um abraço,