sexta-feira, 22 de maio de 2009

Revendo o passado

Sexta-feira é dia para posts mais leves (aliás, peço aos leitores que depois me cobrem um post sobre "a teoria da sexta-feira", porque este ainda não será sobre ela).
(...)
Semana passada fiz o depósito da versão definitiva (existe algo que o seja?) de minha tese de doutorado. Que venha agora, como disse com certo sadismo o meu orientador, o derramamento de sangue em praça pública. Consegui terminar, também, algumas outras tarefas pendentes, como a atualização do "Uma Introdução à Ciência das Finanças", de Aliomar Baleeiro, que já está sendo revisada e em breve será lançada pela Forense em nova edição.
Esses e outros projetos, dos quais falarei depois, vinham tornando os posts do blog menos frequentes. Também no twitter eu quase não aparecia. Agora mais livre, talvez volte a postar mais.
Devo admitir, contudo, que o fato de essa frequência ser maior ou menor decorre mais da inspiração (ou da falta dela) do que do tempo, pois desse a gente sempre (quando quer) consegue arranjar mais um pedacinho.
Bom, o fato é que, com tempo, ou inspirado, estou com diversas idéias para fazer alguns posts.
É difícil separá-las. Às vezes penso em cuidar de várias coisas ao mesmo tempo. Depois vou pensando (geralmente ao dirigir, ou ao correr à beira-mar, sozinho, nas noites de terça e quinta), e os posts vão se moldando na cabeça. Eventualmente sonho em como fazê-los; aliás, a idéia de escrever o "CTN Anotado" eu tive durante um sonho. Disse isso uma vez para um amigo, e, pela cara dele, acho que ficou achando que eu era louco; por isso mesmo resolvi nunca mais contar o fato para ninguém...
Bom, mas o tema deste post nem era nada disso que acabei escrevendo. Era para falar do passado, e de como ele passa.

***

Neste ano de 2009 o livro "Curso de Direito Tributário", do meu pai, completou trinta anos. E, por feliz coincidência, trinta edições, o que justificará, dentro de alguns meses, uma comemoração, a ser devidamente anunciada aqui no blog. Mas o que importa, por ora, é que isso me fez prestar mais atenção na passagem do tempo, ou, na verdade, nas consequências dela, em diversas situações e circunstâncias. Parece que foi outro dia que ganhei um "colossus" no natal de 1984... E hoje me vejo às voltas com alguns dos sobreviventes dos meus brinquedos (sim, eu era cuidadoso), com os quais me divirto junto com os meus filhos. Minha filha mais velha, que até outro dia adorava meus falcons e me chamava para usá-los brincando com ela de barbie (e eu ia!), está começando a achar certas brincadeiras "meio sem noção". Dia desses perguntei se ela queria assistir discovery kids comigo (era seu canal preferido), e ouvi: - Pai, helooou, isso é coisa de criança!
Estava nesse contexto, dentro desse "horizonte hermenêutico" saudosista, quando por acaso, lendo um livro de Teoria do Direito meio amarelado na biblioteca do meu pai, encontrei, entre suas folhas, a seguinte fotografia:


Putz... Foi uma viagem. Naquela época, diria Saramago, "o futuro era uma carta fechada e a curiosidade para abri-la ainda estava por nascer". Eu diria que o passado também é uma carta, que, no futuro, estamos sempre a abrir e reler; com o tempo, aumentam suas páginas e o interesse pelo que nelas se acha escrito...
A foto foi tirada no meu aniversário de um ano, na sala de jantar da casa onde eu morava. Engraçado como a moda vai e vem: essa blusa do meu pai, que aos 10 anos eu teria achado horrível, está hoje super fashion. Outra coisa que percebi foi que essa mesmíssima sala, com algumas modificações, funciona atualmente como ambiente de reuniões do nosso escritório. Quase todos os dias participo de reuniões nela, e nunca tinha me dado conta de que, durante muito tempo, ali almoçávamos e jantávamos, conversando sobre os mais diversos assuntos familiares. Bom, outra coincidência foi que, nessa mesma sala, ocorreu (há exatos cinco anos!) o lançamento conjunto da primeira edição do meu "Processo Tributário" e da segunda edição (primeira pela Atlas) do "Uma Introdução ao Estudo do Direito", do meu pai, quando tiramos uma foto no mesmo lugar e quase na mesma posição daquela:



Quando é que, meio assustado com aquelas lembrancinhas e aquele bolo em formato de trem, lá nos idos de 1979, eu iria imaginar que 25 anos depois estaríamos ali de novo festejando e tirando fotos àquela mesa, depois de autografar alguns livros? Naquela época a minha curiosidade para abrir a carta realmente ainda estava por nascer... Mas acho que isso nem sempre é assim tão próprio da infância, pois tampouco meu pai pensava, à época, que, na mesma sala, 30 anos depois, ele autografaria exemplares da 30.ª edição do despretensioso "curso" que por aqueles dias havia encaminhado à editora...

13 comentários:

Thiago Vargas disse...

Caro Hugo...aproveitando a leveza do post e o tema escolhido...o tempo...lembrei de uns versos do poeta Mário Quintana (embora existam alguns que não lhe atribuam a autoria dos mesmos) sobre o tempo...

A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê, já se passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado.
Se me fosse dada, um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho, a casca dourada e inútil das horas.
Desta forma, eu digo: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo,a única falta que terá, será desse tempo que infelizmente não voltará mais.

abraços e bom final de semana a vc e a todos os leitores do seu blog.

GVale disse...

Belíssima nostalgia, Hugo! Engraçado: acho que todos nós, "contemporâneos de aniversários", temos fotos similares. Éque estafoto redescoberta lembrou-me muito a foto de um aniversário meu, no começo dos anos 80. A diferença é que estava fantasiado de Homem Aranha e creio que obolo possuía alguma temática de super-herói também. Salvo engano, esta foto foi utilizada pelas colegas de minha Comissão de Formatura na aula da saudade da nossa turam... :)

Abraço, meu amigo!

Suzane Farias disse...

Adorei o post...fiquei emocionada de lembrar de ti pequenininho e ver que realmente o futuro é uma carta fechada e demoramos a pensar em abri-la. Na verdade, tenho pensado muito sobre isso e constatando porque as pessoas falam tanto em voltar no tempo. bjo meu irmão querido!!

Feitosa Gonçalves disse...

Por mais que a nostalgia que senti possa ter atrapalhado meus cálculos, sei que somos mais ou menos contemporâneos...

Às vezes acho que pra nossa geração foi meio complicado, não é? Toda aquela ebulição dos anos 90 e agora as crianças amadurecendo cada vez mais cedo, pelo menos pra mim é meio difícil não sentir como o tempo passou rápido rs!

Que ninguém mais saiba disso, mas eu também já tive idéias (p.ex. para petições) dormindo, sendo que o que acho chato é quando as tenho, e ao acordar lembro que tive mas não lembro qual foi a idéia rs!

Abraço e ótimo final de semana!

Pablo

PS. Momento conexão com outro post: Tomei a liberdade de citá-lo como "precedente" quando meu orientador sugeriu que eu precisava escolher um marco teórico.

Hugo de Brito Machado Segundo disse...

Thiago,
De Quintana ou não (acho que esse é dele sim), o que importa é que as palavras são bonitas. É isso mesmo!

Hugo de Brito Machado Segundo disse...

Caro Germano,
Deve ser engraçada sua foto. É divertido ver as fotos de antigamente.
um abraço!

Hugo de Brito Machado Segundo disse...

Feitosa,
É um pouco assustador ver a passagem do tempo. Algumas concepções vão mudando, e até a noção de quanto tempo é "muito". Um ano, que para uma criança de 8 é uma eternidade, já nem nos parece assim tanto tempo.
Quanto ao orientador e ao marco teórico, cuidado, pois no meu caso as pancadas que levei foram grandes!

Hugo de Brito Machado Segundo disse...

Suzane,
Algumas lembranças são muito agradáveis e emocionantes.
Ir à praia, tirar a areia na mangueira do jardim depois em casa, tomar banho de sol sobre a toalha na grama...

Hugo de Brito Machado Segundo disse...

Laguardia,
Parabéns pela iniciativa. O meio eletrônico é bom por permitir tal liberdade.

George Marmelstein disse...

Hugo,

e o interessante é que a roupa do teu pai está mesmo hoje na moda.

Quando via fotos antigas dos meus pais sempre perguntava: como é que vocês tinham coragem de usar isso?

E o curioso é que hoje estamos usando as mesmas roupas!!!!

O filósofo Belchior tinha razão: ainda somos os mesmos, e vivemos como nossos pais...

George

Hugo de Brito Machado Segundo disse...

É verdade, George.
Quando eu era mais novo, e via as fotos dos meus pais, achava horrível aqueles óculos enormes... Hoje as mulheres usam uns que parecem umas máscaras! A década de 70 voltou, a de 80 está voltando, e começa a ficar "brega" a moda do início da década de 90. Minha filha vê umas fotos minhas adolescente com calças jeans "semi-bag", meia branca e mocassim e diz: pai, que ridículo!

melissaguara disse...

Hugo,
Adorei o post!! Adorei a ciração do Saramago e me lembrei de um filme recente (knowing) no qual as crianças de uma escola escrevem cartas falando sobre o futuro para serem abertas vários anos depois. Assim é a vida!! Parabéns pela sensibilidade e pela leveza. Melissa Guará.

Hugo de Brito Machado Segundo disse...

Obrigado, Melissa.
É bom saber que o blog tem leitoras de valor como você!
um abraço