sexta-feira, 28 de maio de 2010

Epistemologia e Jung



Como o leitor certamente notou, os posts a respeito de filosofia, epistemologia e teoria do direito ficaram mais escassos. Enquanto elaborava minha tese de doutorado, eram comuns postagens sobre metafísica, objetividade, realidade etc., em que discutia até mesmo a "cor verdadeira" das pipas. Depois, tendo retomado a atualização ao "Introdução à Ciência das Finanças", de Baleeiro, e depois iniciado o livro sobre as Súmulas do STJ e do STF, as postagens filosóficas rarearam. O blog ficou mais "tributário".
Mas não interrompi leituras nessa seara.
A propósito, há uns dias lia a correspondência de Jung e encontrei passagem que confirma inteiramente a idéia - que nos vem de Platão, e é revisitada por Kant - de que não temos acesso direto à realidade e, portanto, nunca teremos pleno (absoluto) conhecimento em torno dela. Tema recorrente em estudos de epistemologia e de hermenêutica, tratado com clareza e simplicidade (mas sem perder a precisão) por um estudioso da mente humana. Não há como negar a semelhança entre o que abaixo está transcrito e as idéias de Gadamer (horizonte hermenêutico e pré-compreensão), por exemplo, embora Jung parta de premissas ligadas ao estudo da mente, e não propriamente calcadas na filosofia ou na hermenêutica. Por outro ângulo, com outra bagagem (ou por outra lente), observa a mesma realidade:

"Tudo o que percebo externa e internamente é representação ou imagem, uma entidade psíquica, causada, segundo penso, por um correspondente objeto 'real'. Mas devo admitir que minha imagem subjetiva só é idêntica grosso modo com o objeto. Todo pintor de quadros concordará com essa afirmação, e o físico acrescentará que aquilo que nós chamamos 'cores' são na verdade comprimentos de ondas. A diferença entre imagem e objeto real mostra que a psique, ao perceber o objeto, altera-o acrescentando ou excluindo certos detalhes. Por isso a imagem não é causada inteiramente pelo objeto; também é influenciada por certas condições psíquicas pré-existentes, que nós podemos corrigir apenas em parte..." (JUNG, C. G. Cartas - 1956-1961. Petrópolis: Vozes, 2003, v. III, p. 231)

5 comentários:

Psicotropica disse...

Como então iremos tratar o depoimento das testemunhas oculares? Pois a subjetividade, tão bem definida por Jung, dá um colorido que pode distorcer a objetividade.

Unknown disse...

Sua sociedade é decadente; sua justiça, corrupta; sua democracia, fraudada.
O site é: www.democracia-fraudada.com
O resto é site baunilha...

JPM disse...

Olá,
Tive contato com o teu blog via blog da Maratona Literária/Brrava.
Agora vim conhecê-lo e seguí-lo.
Desde já és convidado a visitar o meu.
Saúde e felicidade.
João Pedro Metz

Hugo de Brito Machado Segundo disse...

Psicotropica,
O depoimento das testemunhas oculares deve ser visto com cautela, sendo cotejado com as demais provas disponíveis.
No livro "O maior espetáculo da Terra", Richard Dawkins cita uma experiência feita com um filme de pessoas jogando basquete, no meio das quais passa um gorila que, quem assiste, em um primeiro momento, não vê. Ele faz, a propósito, boas considerações sobre o testemunho ocular. Vale a pena conferir, inclusive pelo conteúdo das demais partes do livro, que é realmente muitíssimo interessante.

Hugo de Brito Machado Segundo disse...

JPM,
Espero que goste do blog. Fique à vontade para participar e comentar.
O seu é também bastante interessante.
att.