domingo, 26 de abril de 2009

Ditabranda para quem?

Em post anterior, referi questão de ter a ditadura militar brasileira sido chamada de "ditabranda". Coincidentemente, na seção de cartas da Playboy do mês passado, comentando a entrevista publicada no número anterior (com o Ministro Minc), um sujeito escreveu algo bem assustador, dizendo ter sido "ditamole" (e arrematava que dura teria sido se ele próprio mandasse na época).

O Jânio Vidal, que além de amigo, Professor da FA7 e Procurador da Fazenda Nacional é um estudioso do Direito Constitucional e defensor da Democracia, tendo visto a discussão (no blog, e não na Playboy, esclareço para o caso de ele estar preocupado com julgamentos de pessoas ultraconservadoras - sí, las hay, incluso entre los - e las - jovenes!) :-) fez a gentileza de enviar-me um vídeo no qual coincidentemente o mesmo termo é usado por ninguém menos que Pinochet.






Sintomático.
Além da (sempre presente entre ditadores) invocação do interesse público, dos interesses da nação, da coletividade etc., tão bem retratada pela Raquel no "Interesse Público e Direitos do Contribuinte", a manifestação mostra que os direitos fundamentais devem ser prestigiados sempre, não havendo "grau" no qual uma ditadura seria tolerável, aceitável ou branda. Por maior que seja o arbítrio de um governo, sempre existirão aqueles que não serão por ele molestados, e que "acharão pouco" as atrocidades feitas. Além disso, como diz com muita propriedade Giovani Sartori, não há limite para algo que se caracteriza pela falta de limites. Ditadura branda é algo como um quadrado redondo, como um mole duro ou um triângulo esférico.
Até pensei em examinar isso um pouco mais detidamente, usando uma linguagem mais elaborada e analítica, mas pensei que a linguagem de botequim, mais uma vez, é um show de clareza e síntese: nos olhos dos outros pimenta é refresco.

2 comentários:

Jânio Vidal disse...

Caro Hugo,

Quando fiz o envio do vídeo, aludi ao fato de o momento jornalístico (Editorial da Folha)já ter passado (havia atentado anexá-lo nos 'comentários' sem êxito). Gostaria de consignar, todavia, a importância de você insistir na discussão, haja vista a importancia deste debate para o presente e para o futuro. Esta é uma questão, para a qual, devemos estar sempre vigilantes - 'a Playboy está no rumo certo' (rsrs).

Abs.

Jânio Vidal

Hugo de Brito Machado Segundo disse...

Caro Jânio,
Sou-lhe muito grato pelo vídeo, e pelos comentários.
Você tem razão quanto à necessidade de se insistir na discussão. É como o poema do maiakowsky (primeiro eles roubam uma flor...), como o que o Alexy diz no "concepto e validez del derecho" (las teorías no positivistas y el combate de las ditaduras en su inicio), e como diz o ditado popular (a cabeça não tem ombro...), em grau decrescente de estética literária...
Quanto à Playboy, como não estou nem aí para o que pensem ou digam (como o funk: deixe que digam, que pensem, que falem, deixe isso prá lá, o que é que tem?), admito: é uma leitura essencial. E falo sério. Na última, sem prejuízo das qualidades do ensaio da Sheila Carvalho, a entrevista de Tarso Genro está muito boa.