Como examinador em bancas de defesa de monografias (graduação e especialização em Direito), vejo verdadeiras pérolas. E vejam só: em trabalhos de conclusão de curso de nível superior, e, ainda por cima, em área ligada às chamadas ciências humanas, setor no qual se presume pelo menos algum conhecimento da língua.
Já havia feito postagem a respeito do interesse pela literatura, e da importância desta para o estudante de Direito (http://direitoedemocracia.blogspot.com/2007/12/literatura.html)
Recentemente, porém, deparei-me com problema muito maior. A venda de trabalhos. Os que são "clonados" da internet, pegamos inserindo algumas de suas frases no google. Mas os que são comprados em sites de "encomenda" de monografia, que prometem "trabalhos inéditos", são mais difíceis de desmascarar.
Comecei a me impressionar com defesas de monografias até razoáveis de alunos que, até onde os conhecia, não teriam condições de escrever aquilo. E, na defesa, se atrapalhavam, revelando não conhecer bem o que ali estava escrito. Foi quando descobri os tais sites de venda de monografias, e, o que é pior, são todos eles REPLETOS DE ERROS DE PORTUGUÊS!!Dêem uma conferida em http://www.estudopronto.com/express_service.htm , onde se acha "A Estudo Pronto, sempre atenta com as necessidades de seus clientes, ESTÃO TRAZENDO até você mais uma solução Universitária", ou então - essa é de matar - "O EXPRESS SERVICE é oferecido somente para o que necessitão de um trabalho com extrema urgência"...NECESSITÃO??? Putz, nem minha filha, que há pouco saiu da alfabetização, escreve uma barbaridade destas. E isso, note-se, num site que se oferece para fazer trabalhos escolares, até de nível de pós-graduação, para pessoas "modernas" que "não têm tempo"....
E o site ainda tem como "lema" a frase "O futuro começa aqui". Fico, então, a divagar: que futuro será esse? Qual o futuro de alguém que se vale de tais "serviços"?
Como todo objeto pode ser visto pelos mais diversos prismas, esse fato, visto sob o ângulo da Teoria do Direito, mostra o acerto da afirmação de que a norma nem sempre pode para com a "força dos fatos".
Sempre me impressionou a relação - ou o diálogo, para usar as palavras do Professor Martônio Mont'Alverne - entre norma e fato, ou entre faticidade e validade (Habermas). Se a "força normativa dos fatos" sempre prevalecesse sobre as normas, não adiantaria normatizar nada. Se, por outro lado, a norma pudesse tudo alterar em face da realidade factual, seria muito fácil modificar a realidade, o que não parece ser verdade, sobretudo quando se analisa o texto da Constituição brasileira de 1988.
Mas, voltando aos sites de monografias, eles mostram uma coisa em relação à "força dos fatos": a norma passou a exigir a feitura de uma monografia de fim de curso como forma de melhorar o nível destes e a qualidade de seus alunos, mas a parte "torta" da realidade sempre arranja uma maneira de continuar torta, entortando mais ainda as coisas. Mais ou menos como a lei seca no início do Século XX, nos EUA, que em vez de acabar com os alcoólatras criou os gangsters.
Em suma: se o sujeito é N.Q.O ("não quer ovo"), não tem jeito.
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