A realidade é simples. São as pessoas que complicam as coisas.
No último sábado, tive uma prova disso.
Tenho lido, para a tese que estou a elaborar, algo sobre filosofia e epistemologia. Apesar de parecer uma "viagem", espero que a tese fique clara, e com os pés no chão (embora com os olhos no horizonte).
Sábado, depois do almoço, na casa dos meus pais, distraía-me com a leitura de Robert Nozick (NOZICK, Robert. Invariances – the structure of the objective world. Massachusetts/London: Harvard University Press, 2001), um grande crítico de Rawls, quando meus filhos vieram me pedir ajuda para colocar para voar umas pipas que o meu pai havia feito para eles.
Interrompi a leitura do Nozick, precisamente no capítulo em que ele discute a existência, ou não, de verdades absolutas e de realidades objetivas, e fui ajudá-los com as pipas.
Eram três pipas. Para o Hugo, e para o Paulo, meu pai fez pipas pequenas e amarelas, com o nome de cada um colado. Para a Larinha, uma pipa maior, cor de rosa, também com o nome dela. Fomos ao jardim, e, com o vento forte da Fortaleza dos meses do "B-R-O" (setembro, outubro...), as pipas alçaram vôo. Foi uma felicidade. Muitas aventuras, lanceios, pousos forçados no telhado da casa... Até que, terminada a brincadeira, fomos guardar as pipas.
Foi quando a Larinha veio-me com o seguinte questionamento:
- Pai, lá fora, no sol, minha pipa era cor de rosa, mas bem clarinha. Aqui dentro de casa, ela fica mais escura. Quase roxa. Qual é a cor VERDADEIRA da minha pipa? A que ela tem lá fora, ou a cor aqui dentro?
Esse fato revela que mesmo a realidade sensível, supostamente objetiva porque mensurável, é relativa. Ou melhor, não a realidade, propriamente, mas a imagem que fazemos dela, que é necessariamente intermediada por nossos imperfeitos sentidos.
Insisto que falar de relativismo, aqui, não é o mesmo que propor a anarquia, e a inexistência de padrões. Eles existem. Mas apenas não são universais, relacionando-se com o momento histórico e os demais paradigmas em face dos quais são traçados.
Ou seria possível dizer, no caso, a cor VERDADEIRA (ela deu bastante ênfase a essa palavra) da pipa, sem recorrer a algum ambiente - e ao sujeito nele inserido - em relação ao qual (logo, relativo ao qual) essa cor seria determinada?
5 comentários:
O problema poderia ser maior, Hugo.
Já pensou se ela pergunta: "pai, existe uma pipa?"
:-)
George
O que foi que tu respondeu pra ela???
eu acho que a cor é meio que absoluta.. Só ia ser difícil explicar pra larinha toda aquela história de decomposição de cores, e que no ambiente mais escuro a cor seria diferente porque a luz lá não tem o mesmo espectro da luz do lado de fora. :)
né?
Mas.. Sempre tem a pergunta que o George lá se referiu. Daí volta pro começo de tudo!
ah tah! mas, mesmo com a explicação científica lá ainda fica a questão de qual a cor que é certa, né? Aí tem que ter um ponto, tipo a luz do sol, pra dizer qual é a certa!
é.. legal, isso!
Hahahaha...
É verdade, George, mas essa pergunta talvez fosse pouco plausível de ser formulada por uma criança de 8 anos. A da "cor verdadeira", entretanto, de fato foi formulada.
Eu respondi, Dona Suzan, que "a cor certa" não existe, pois depende da luz refletida pela pipa, que vem do ambiente, e não dela própria.
Lembrei até, Bruna, daquela nossa dúvida de infância sobre se as outras pessoas vêem as mesmas cores que nós vemos, ou se vêem outras mas são ensinados desde pequenos a dar-lhes os mesmos nomes que damos para as que vemos. E aí, nesse caso também, quem veria as cores "certas"?
No caso da pipa, Bruna, é mesmo uma boa saída dizer - pelo menos dentro do nosso sistema solar - que a cor "certa" é a refletida pela pipa em face da luz do sol. Afinal, é a fonte primordial - e natural - de luz que temos. Mas, ainda assim, a afirmação é relativa, pois está relacionada ao nosso sol, e à aptidão de nossos olhos para captar a luz por ele emitida (e pela pipa refletida).
Que viagem!
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