Estou cursando, no Doutorado em Direito Constitucional da Unifor, a disciplina "Hermenêutica", ministrada pelo professor Paulo Albuquerque.
Como acontece em outras pós-graduações, o professor atribuiu aos alunos (apenas três, o que torna a aula incrivelmente dinâmica e mais interessante) a leitura de alguns textos, a serem discutidos ao longo das aulas.
Embora todos tenham o dever - de resto óbvio - de ler todos os textos, estes são separados entre os membros da turma, para que cada um fique encarregado de não apenas ler mas também iniciar a discussão a respeito do texto que lhe tiver sido designado, fazendo como que uma "mini-apresentação" dele.
O primeiro texto coube a mim. Trata-se do livro "Hermenêutica", de Richard Palmer. Em seguida examinaremos textos de Ronald Dworkin, Peter Schneider, Friedrich Müller, Marcelo Neves, Humberto Ávila, entre outros.
Preparei um resumidíssimo material com alguns dados sobre o autor e o livro, para dar mais dinâmica e sistematicidade à discussão, e resolvi postá-lo aqui.
Não se trata, evidentemente, de material completo, que torne prescindível a leitura do texto. De maneira nenhuma! É apenas um "flash", para despertar (ou não, a depender do interesse - ou da pré-compreensão - de cada um em relação ao tema) a vontade de adquirir o livro e proceder à sua leitura.
Aí vai:
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Atividade: Análise de trecho do livro “Hermenêutica”, de Richard Palmer (tradução de Maria Luísa Ribeiro Ferreira, Rio de Janeiro: Edições 70, 1989).
Um pouco sobre o autor:
- Nascido em 1933;
- Fez pós-doutorado com Gadamer, em Heidelberg (Alemanha);
- Professor emérito de Hermenêutica filosófica e religiosa do MacMurray College, em Jacksonville, Illinois;
- A partir de 1999 passou a se dedicar à tradução (para o inglês) das obras de Gadamer;
- Seu livro Hermenêutica já se tornou um clássico, tendo sido traduzido para pelo menos seis línguas.
- e-mail: rpalmer@mac.edu
Um pouco sobre o autor:
- Nascido em 1933;
- Fez pós-doutorado com Gadamer, em Heidelberg (Alemanha);
- Professor emérito de Hermenêutica filosófica e religiosa do MacMurray College, em Jacksonville, Illinois;
- A partir de 1999 passou a se dedicar à tradução (para o inglês) das obras de Gadamer;
- Seu livro Hermenêutica já se tornou um clássico, tendo sido traduzido para pelo menos seis línguas.
- e-mail: rpalmer@mac.edu
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Alguns tópicos construídos a partir do texto examinado (os números referem-se às páginas do livro):
· Trata-se da parte inicial do livro em exame, na qual o autor destaca, inicialmente, a importância e a difusão cada vez maior da Hermenêutica;
· Em seguida, afirma que a interpretação literária na Inglaterra e na América trata as obras analisadas como algo que existe por si, um dado objetivo que independe de quem as observa (separação entre sujeito e objeto), numa perspectiva pretensa e supostamente científica. Um poema é dissecado como um sapo em um laboratório, o que faz com que os alunos vejam a literatura como algo irrelevante, conclusão à qual são conduzidos por seus próprios professores;
· Entretanto, é preciso diferenciar, entre os objetos, aqueles que são obra (feita pelo homem) e dos objetos naturais. A obra não deve ser dissecada, mas compreendida dialeticamente. A hermenêutica é precisamente o estudo dessa compreensão, sendo por isso fundamental em todas as humanidades – em todas as disciplinas que se ocupam da interpretação das obras do homem. Sua importância decorre do fato de que a interpretação é essencial ao pensamento humano. O próprio fato de se existir é um processo constante de interpretação;
· As raízes da palavra hermenêutica residem no verbo grego hermeneuein, usualmente traduzido por interpretar, verbo que remete para o deus Hermes, sendo significativo que esse deus “se associe a una função de transmudação – transformar tudo aquilo que ultrapassa a compreensão humana em algo que essa inteligência consiga compreender.” (p. 24)
· “Interpretação” pode referir-se a três usos distintos: i) recitação oral; ii) explicação racional (explicar); iii) tradução de outra língua.
· Interpretação como dizer relaciona-se à função anunciadora de Hermes. Não é algo mecânico, mas sim criativo. O processo é um paradoxo: para lermos (como condição para anunciar em voz alta o sentido do texto), precisamos compreender previamente o que vai ser dito e, porém, essa compreensão deverá vir da leitura. Por outro lado, o texto retira muito do poder da palavra falada, e a interpretação deve devolver-lhe esse poder, reconvertendo a escrita em discurso.
· Como explicar, a interpretação não se limita a dizer algo (embora também o faça), mas explica, racionaliza e clarifica o que foi dito. A compreensão que serve de base a essa interpretação já molda e condiciona a interpretação, pois determina como a aproximação do intérprete acontecerá. “Método e objeto não podem separar-se” (p. 33). “... por um processo dialético, há uma compreensão parcial que é usada para compreendermos cada vez mais, tal como ao manusear as peças de um puzzle adivinhamos o que dele falta. (...) É necessário um certo conhecimento prévio, sem o qual não haverá qualquer comunicação.” (p. 35)
· Como traduzir, a interpretação consiste em tornar compreensível o que é estrangeiro, estranho ou ininteligível. Tal como o deus Hermes, o tradutor é um mediador entre um mundo e outro. Não se trata de simples substituição de sinônimos, mas de compreensão de dois mundos (separados pela língua, pelo tempo, pela distância etc.) A tradução conscientiza-nos “do choque entre o nosso universo de compreensão e aquele em que a obra actua.” (p. 40)
· O autor cuida, em seguida, de SEIS definições modernas de hermenêutica, que, em sua concepção, dão ênfase quer a um, quer a outro desses três significados clássicos. São elas: i) teoria da exegese bíblica; ii) metodologia filológica geral; iii) ciência de toda a compreensão lingüística; iv) base metodológica dos Geisteswissenschaften; v) fenomenologia da existência e da compreensão existencial; vi) sistemas de interpretação usados pelo homem para alcançar o significado subjacente aos mitos e símbolos;
· O significado mais antigo de hermenêutica é o de interpretação da bíblia (sentido moderno “i”). Está ligado, historicamente, às primeiras utilizações desse termo. Não obstante, em inglês, hermenêutica podia significar também a interpretação de texto não bíblico, desde que considerado obscuro ou simbólico, carente de tipo especial de interpretação para se alcançar seu sentido escondido;
· Com o iluminismo, e o desenvolvimento da filologia, passou-se a interpretar a bíblia de forma mais refinada e racional, analisando seu texto e procurando considerar as diferenças históricas, as verdades morais subjacentes aos “mitos”. Tais métodos eram os mesmos utilizados para interpretar outros textos, com o que a hermenêutica deixou de estar necessariamente vinculada a bíblia, que passou a ser apenas um de seus objetos (sentido moderno “ii”);
· Com Schleirmacher, a hermenêutica foi repensada como ciência da compreensão. Não apenas um conjunto de regras para compreender um texto, mas verdadeira “ciência que descreve as condições da compreensão, em qualquer diálogo. O resultado não é simplesmente uma hermenêutica filológica, mas uma hermenêutica geral.” (p. 50) (sentido moderno “iii”);
· Com Dilthey, passou-se a ver a hermenêutica como disciplina central que serviria de base para todas as Geisteswissenschaften (ciências do espírito, ou disciplinas centradas na compreensão da arte, do comportamento e da escrita do homem). (sentido moderno “iv”)
· Heidegger e Gadamer, em seguida, defendem ser a hermenêutica a explicação fenomenológica da própria existência humana. Isso porque a própria realidade humana seria “lingüística”, pelo que a hermenêutica mergulharia em problemas puramente filosóficos como a compreensão, a história, a existência e a realidade (p. 52). (sentido moderno “v”)
· Finalmente, Paul Ricoeur adota uma definição de hermenêutica como teoria das regras que governam uma exegese, “quer dizer, a interpretação de um determinado texto ou conjunto de sinais susceptíveis de serem considerados como textos.” (p. 52) Deve-se buscar um sentido mais fundo, revelado para além do conteúdo manifesto, o que demonstra uma desconfiança para com a superfície, que pode ser a abertura para uma realidade subjacente (a ser recuperada), ou uma ilusão enganadora (a ser destruída). (sentido moderno “vi”)
Outras informações sobre o autor e sua obra podem ser obtidas nos seguintes sites:
- http://www.mac.edu/faculty/richardpalmer/ (com diversos textos disponíveis on-line, em inglês, detalhes biográficos, produções acadêmicas etc.)
- http://www.phillwebb.net/History/TwentiethCentury/Continental/Recent/Palmer/Palmer.htm (com textos e palestras disponíveis on-line, em inglês)
4 comentários:
Caro Hugo,
Gostei muito do Blog. Acho importante discutir assuntos paralelos ao Direito, até mesmo exoplanetas e etc, mas também filosofia e literatura. Precismos de abertura.
Bacana o seu comentário sobre o Palmer. Vou procurar o livro. Como vc sabe, sou professor de Hermenêutica Jurídica. A visão hermenêutica de mundo inaugurada pelos filósofos que o Palmer comenta é fundamental para a compreensão do nosso tempo e da Filosofia do Direito contemporânea.
Parabéns pelo Blog! Vou linka-lo no meu: Direto, Literatura e tal...[www.nagibedemelo.blogspot.com]
Um grande abraço,
Nagibe
Querido Hugo,
Em outros comentários já publicizei aqui minha adminiração pela sua obra que certamente deve refletir muito da pessoa que deves ser.
Assim como o comentário feito pela pessoa anterior, também sou Professor de Hermenêutica Jurídica, motivo pelo qual fiquei igualmente feliz com este seu post sobre a obra de Richard Palmer.
Pelo nível de seu blog e seu "apetite intelectual" recomendo ainda a leitura de outro autor, não tão famoso como o Palmer mas de igual importância para a Hermenêutica moderna: Jacques Derrida e suas ideias sobre a "desconstrução". Vale muito a pena!!!
No mais, reitero os "parabéns" feito pelo Nagibe e aproveito o ensejo para agregar aos cumprimentos um forte abraço aqui da boa terra (Bahia).
Milton Vasconcellos
Obrigado!
Quem tiver interesse em ler e fazer download do novo livro de Marcelo Neves: Entre hidra e hércules, o link pra baixar é: http://www60.zippyshare.com/v/53222927/file.html
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