sexta-feira, 27 de março de 2009

Eu quero é aula!!!

No doutorado, cursei disciplina sobre didática do ensino jurídico. Quando vi que tinha de me matricular, achei que seria um saco, mas, como era obrigatória, inscrevi-me.
Ao cursá-la, porém, me surpreendi. Primeiro porque o professor, Rosendo Amorim, é muito legal. Depois porque aprendi muita coisa útil ao meu ofício de professor.
Uma coisa que aprendi na teoria, e na prática, foi a importância e a utilidade de diversificar os métodos de aula. A aula discursiva, ou expositiva, é muito importante, e ainda acho que deva, principalmente na graduação, ser o carro-chefe. Mas não deve ser a única.
Quem um dia não já sentou em uma cadeira, na sala de aula, e viajou longamente enquanto o professor falava por horas a fio? Até que o professor então pergunta: - Não é, fulano?
Um "Ãhn?", beeem longo e anasalado, é a resposta mais comum de quem nesse momento é puxado à terra firme, de volta ao mundo físico.
É legal, por isso, alternar a aula expositiva com outros métodos. Vídeos, estudos de caso, debates, resoluções de provas de concurso ou da OAB...
Pois bem.
Embora reconheça isso, nunca tive muita disposição para tal. O máximo que já tinha feito era um "julgamento simulado" de um processo administrativo tributário, na disciplina de "Processo Tributário" que ministro na Faculdade Farias Brito. Dividi a turma - que não era muito numerosa - entre os "conselheiros", o "procurador" e o "advogado", dei uma cópia do processo para cada um com antecedência, para que elaborassem seus argumentos em casa, e foi bem proveitoso.
Não faço isso com frequência não porque não valorize tais métodos, mas porque a matéria que ensino, "Tributário I", é muito extensa, e nem sempre sobra tempo. Mas tenho me esforçado.
Outro dia, depois de tratar de determinado assunto, levei para a turma uma prova de direito tributário da OAB, aplicada a quem escolheu essa matéria para a segunda fase.
Tive o cuidado de selecionar justamente as questões que cuidavam da matéria dada, imprimi no próprio formulário da OAB, e pedi aos alunos que fizessem como se estivessem se submetendo ao tal exame "de verdade".
Esclareci, ainda, que poderiam consultar livros, mas não o colega. Tal como na prova "de verdade" mesmo.
Disse, por fim, que uns vinte minutos antes de terminar a aula eu discutiria com a turma as questões. Debateríamos as respostas dadas por cada um, eu diria minha opinião etc.
Uma aluna, então, aproximou-se, com a fisionomia bastante contraída (isso para não dizer que estava revoltada) dizendo:
- Eu não acordei cedo e nem peguei a maior chuva no caminho para, chegando aqui, não ter aula!

Tentei explicar para ela que aquilo era "ter aula", e que talvez ela aprendesse mais ali, tentando resolver a prova e depois discutindo as respostas, do que se eu estivesse só falando coisas (que estão nos livros, por sinal) para ela copiar e decorar acriticamente, mas acho que não convenci. Ela saiu e disse que voltaria quando eu fosse explicar as questões. Não tentaria resolvê-las antes.
Os que ficaram, eu acho, gostaram.
Mas o pior é que, nas avaliações que os alunos fazem dos professores, embora eu receba notas bem altas em quase todos os quesitos, os alunos geralmente reclamam que eu não uso muito "métodos didáticos alternativos". Vai entender....

4 comentários:

Anônimo disse...

Força, Professor! Como aluno posso opinar:

Costumo falar que só comecei a estudar na faculdade depois que iniciei estágio de assistência jurídica na faculdade, mais ou menos no terceiro semestre, o qual, por ser voluntário, não se resumia ao leva e traz de processos.

A partir disso, cheguei a reprovar nas matérias menos enriquecedoras (ou passar estudando apenas na hora anterior às provas), porque dirigia todo meu estudo para as demandas do estágio.

Apesar disso, não tenho dúvidas do quanto evoluí.

Antes disso, suspeitava que o conhecimento trazido pelos livros se tratava de mero exercício acadêmico, meio desvinculado da realidade, sem utilidade mesmo. As leituras teóricas que escapavam um pouco da análise mais superficial (concurseira) da matéria passavam a impressão de satisfazer somente à vaidade dos juristas de plantão.

Trazer para a sala e discutir jurisprudência, a vida forense, enfim, a dimensão concreta do direito, através da aula expositiva mesmo (em que não se perde muito tempo), na minha opinião é a melhor contribuição que se pode esperar do prof. da graduação.

É a prática que desperta o interesse pelo Direito e desenvolve o raciocínio para resolver os problemas jurídicos, além do que supre a falta de experiência do aluno, mesmo aquele que teve o privilégio de atuar em bons estágios.

Tivesse uma postura mais madura (questão de interesse) quando do começo da graduação, teria hoje uma base muito melhor das disciplinas propedêuticas, maior conhecimento e capacidade para pensar e resolver problemas, portanto.

Fica aqui a humildade sugestão! Abraço.

Raquel Machado disse...

Diego,
Acho que isso é normal. Quem tem alguma responsabilidade, sempre acha, ao final da faculdade, que deveria tê-la levado mais a sério.
Eu, hoje, penso exatamente dessa forma, e me arrependo de não ter estudado mais ainda e aproveitado o que alguns de meus professores tinham para oferecer.
Mas o problema é que o aluno está muito acostumado a adotar uma posição passiva e acrítica em relação ao estudo. Quer as respostas prontas, para decorar. Não quer pensar.
Antes, os alunos tinham interesse em conhecer os argumentos de ambas as "correntes" de uma tese controvertida, criavam polêmica em torno delas etc. Hoje interrompem a explicação perguntando, de forma impaciente, qual é a opinião certa para a CESPE...

Anônimo disse...

Certa aula, após lecionar sobre "Reclamação", notei, pelo semblante dos alunos, que eles não haviam entendido nada.

Voltei na outra aula com um script de um teatro. No roteiro todos os personagens do processo: as partes, o magistrado, Tribunal e o STF. Simulamos todas as possíveis situações e procedimentos da "Reclamação".

Ao final ouvi de uns alunos o sonoro: "Agora,sim. Entendi."

Nem cobrei o tema na prova. Tenho certeza do aprendizado deles.

Hugo de Brito Machado Segundo disse...

Excelente a idéia do teatro.
Participar muitas vezes nos deixa mais atentos do que, paradoxalmente, quando estamos apenas "prestando atenção" no que o professor diz...